quarta-feira, 6 de junho de 2007

Pedra Filosofal




Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer
como esta perda cinzenta
em que me sento e descanso
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam
como esta árvores que gritam
em bebedeiras de azul.

Eles não sabem que sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho alacre e sedento
de focinho pontiagudo
que fuça através de tudo
em perpétuo movimento.

Eles não sabem que o sonho
é tela é cor é pincel
base, fuste, capitel
que é retorta de alquimista
mapa do mundo distante
Rosa dos Ventos Infante
caravela quinhentista
que é cabo da Boa-Esperança

Ouro, canela, marfim
florete e espadachim
bastidor, passo de dança
Columbina e Arlequim
passarola voadora
pára-raios, locomotiva
barco de proa festiva
alto-forno, geradora
cisão do átomo, radar
ultra-som, televisão
desembarque em foguetão
na superfície lunar

Eles não sabem nem sonham
que o sonho comanda a vida
que sempre que o homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.

(António Gedeão)

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